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Abra as asas sobre nós

Era agosto. Ou talvez fosse setembro. Já não me lembro ao certo. No entanto, não me restam dúvidas quanto ao ano: 2020.

Caminhava pela rua semideserta, quando, de repente, olho para o alto e vejo um pássaro engaiolado. Da janela do sobrado, a ave mirava em direção ao horizonte vazio de novidades.

Estranha fixação humana por gaiolas e prisões. Não seria suficiente nos contentarmos com o seu canto ao ar livre?

Suspeito que, para nós homens, não há cárcere pior que a nossa própria mente. Os meus pensamentos são como labirintos em que, ao longo de seus corredores, me são projetados os sentimentos.

Dos bons, gostaria de conservá-los; mas dos que me fazem de alguma forma sofrer, ah desses bem que eu preferiria apagar para sempre.

De menino, queria voar. O meu sonho era ter asas e assim avistar tudo lá do alto. Ainda hoje sonho que voo, mas sem asas. Apenas flutuando por aí como se o super-homem fosse.

Mas a verdade é que não sou pássaro, tampouco herói. Dentre tantos outros, apenas sigo a vida à espera de um desfecho. Às vezes, de uma espécie de milagre.

Sei que vai terminar. Algum dia vai acabar e certamente não será decidido por mim, mas por uma vontade alheia a tudo, e que supostamente tudo sabe. 

Confesso que não conheço ninguém que seja verdadeiramente livre, e, ainda que hipoteticamente livres fôssemos, faríamos o que com a nossa liberdade?

Como ser livre se à nossa espreita está a ignorância? Presumo que enquanto não soubermos tudo, nunca seremos livres. Mas como tudo nos é humanamente impossível conhecer, a liberdade será para nós uma eterna utopia.

Seria essa a lógica divina?

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